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sábado, 22 de setembro de 2007
The Very Best of Supertramp - ouçam, é muito bom!
domingo, 16 de setembro de 2007
O Povo - por Luís Fernando Veríssimo
As opiniões recentemente emitidas sobre ao povo até agora foram tolerantes. Disseram, por exemplo, que o povo se comporta mal em grenais. Disseram que o povo é corrupto. Por um natural escrúpulo, não quiseram ir mais longe. Pois eu não tenho escrúpulo.
O povo se comporta mal em toda parte, não apenas no futebol. O povo tem péssimas maneiras. O povo se veste mal. Não raro, cheira mal também. O povo faz xixi e cocô em escala industrial. Se não houvesse povo, não teríamos o problema ecológico. O povo não sabe comer. O povo tem um gosto deplorável. O povo é insensível. O povo é vulgar.
A chamada explosão demográfica é culpa exclusivamente do povo. O povo se reproduz numa proporção verdadeiramente suicida. O povo é promíscuo e sem-vergonha. A superpopulação nos grandes centros se deve o povo. As lamentáveis favelas que tanto prejudicam nossa paisagem urbana foram inventadas pelo povo, que as mantém contra os preceitos da higiene e da estética.
Responda, sem meias palavras: haveria os problemas de trânsito se não fosse pelo povo? O povo é um estorvo.
É notória a incapacidade política do povo. O povo não sabe votar. Quando vota, invariavelmente vota em candidatos populares que, justamente por agradarem ao povo, não podem ser boa coisa.
O povo é pouco saudável. Há, sabidamente, 95 por cento mais cáries dentáries entre o povo. O índice de morte por má nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo atropelados. Isto quando não se matam entre si. O banditismo campeia entre o povo. O povo é ladrão. O povo é viciado. O povo é doido. O povo é imprevisível. O povo é um perigo.
O povo não tem a mínima cultura. Muitos nem sabem ler ou escrever. O povo não viaja, não se interessa por boa música ou literatura, não vai a museus. O povo não gosta de trabalho criativo, prefere empregos ignóbeis e aviltantes. Isto quando trabalha, pois há os que preferem o ócio contemplativo, embaixo de pontes. Se não fosse o povo nossa economia funcionaria como uma máquina. Todo mundo seria mais feliz sem o povo. O povo é deprimente. O povo deveria ser eliminado.
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Voltando à ativa!
Para divulgar as músicas vou fazer o que muitos músicos independentes fazem hoje: usar a internet. Semana que vem o site já deve estar pronto. Claro, quando isso acontecer, divulgarei o link aqui no blog.
Fique ligado!
domingo, 2 de setembro de 2007
Como um Túmulo (*) ou Sigilo Profissional - Millôr Fernandes
Corisco I
Revisita
ao antigo Teatro Corisco
Como
um Túmulo (*) ou Sigilo Profissional
Peça de costumes, era Pós-Clinton,
em dois atos.
Personagens
Pecador I, Pecador II e Sacerdote-Confessor.
Ato
I
(No
estreito confessionário)
Pecador I - Reverendo, eu engano minha mulher.
Sacerdote - (Na compreensível necessidade
de informar-se melhor para aplicar punições
apenas justas ao pecador) Com quem?
Pecador I - Perdão, prelado, mas sou
um jornalista, tenho que preservar meu segredo profissional.
Sacerdote - Bem, profissional não é.
Até bem amador, com perdão do trocadilho.
Mas como também sirvo sob sigilo do confessionário,
o seu segredo, transmitido a mim, continuará
secreto.
Pecador I - (doido pra entrar na do Padre,
doido pra que o mundo saiba de seus feitos, mas resistindo
- afinal ele trabalha na municipalidade, cobiçam
seu cargo) Eu sei, Santo Homem, mas antigamente as
paredes tinham só ouvidos. Hoje estão
cheias de gravadores.
Sacerdote - (arriscando uma ficha, ou melhor,
uma hóstia):Não vai dizer que foi com
aquela louquinha da sapataria, que já me confessou
horrooooores.
Pecador I - (Babando na gravata, que, aliás,
não porta): A lourinha da sapataria, é?
Aquela gostosa, de tetas grandes e coxas grossas,
que vive exibindo as quatro?
Sacerdote - Essa mesma. (Outra ficha-hóstia)
- Bem, se não foi essa só pode ser a
caixa do supermercado.
Pecador I - (animado) A moreninha dimenor?
Sacerdote - Essa, é. Noutro dia esteve
aqui, durante mais de uma hora... (A melhor ficha,
a melhor hóstia) - Ah, já sei, foi com
a viúva do capitão de corveta que mora
na praça.
Pecador I - Também favorece? O marido
morreu há três meses.
Sacerdote - Mas ela continua muita viva, meu
filho. E depois, o rapaz nem precisava morrer. Ou
foi a...
Pecador I - (saciado) - Não, seu pároco,
não foi com nenhuma dessas. Foi com a dona
do cartório de órfãos. Mas muito
obrigado pelas dicas. Tcháu.
Sacerdote - Tcháu, meu filho, mas não
esqueça três ave-marias e cinco salve-rainhas.
E preserve o sagrado sigilo. Volte sempre que tiver
novidades.
Ato
II
(Logo
à saída do Pecador I entra o
Pecador II)
Pecador II - Seu padre, estou casado só
há dois anos mas tenho que confessar que prevarico.
Sacerdote - Já, meu filho? Com quem?
Não vai me dizer que é com a mulher
desse jornalista que acabou de sair daqui!!
(Pano rápido)
(*) "Como um túmulo"
significa o sigilo último, o sigilo absoluto.
Uma mentira. Os dísticos dos túmulos
geralmente entregam o morto, com ficha, número
de identidade e CGC.