domingo, 16 de setembro de 2007

O Povo - por Luís Fernando Veríssimo

Não posso deixar de concordar com tudo que dizem do povo. É uma posição impopular, eu sei, mas o que fazer? É a hora da verdade. O povo que me perdoe, mas ele merece tudo o que se tem dito dele. E muito mais.

As opiniões recentemente emitidas sobre ao povo até agora foram tolerantes. Disseram, por exemplo, que o povo se comporta mal em grenais. Disseram que o povo é corrupto. Por um natural escrúpulo, não quiseram ir mais longe. Pois eu não tenho escrúpulo.

O povo se comporta mal em toda parte, não apenas no futebol. O povo tem péssimas maneiras. O povo se veste mal. Não raro, cheira mal também. O povo faz xixi e cocô em escala industrial. Se não houvesse povo, não teríamos o problema ecológico. O povo não sabe comer. O povo tem um gosto deplorável. O povo é insensível. O povo é vulgar.

A chamada explosão demográfica é culpa exclusivamente do povo. O povo se reproduz numa proporção verdadeiramente suicida. O povo é promíscuo e sem-vergonha. A superpopulação nos grandes centros se deve o povo. As lamentáveis favelas que tanto prejudicam nossa paisagem urbana foram inventadas pelo povo, que as mantém contra os preceitos da higiene e da estética.

Responda, sem meias palavras: haveria os problemas de trânsito se não fosse pelo povo? O povo é um estorvo.

É notória a incapacidade política do povo. O povo não sabe votar. Quando vota, invariavelmente vota em candidatos populares que, justamente por agradarem ao povo, não podem ser boa coisa.
O povo é pouco saudável. Há, sabidamente, 95 por cento mais cáries dentáries entre o povo. O índice de morte por má nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo atropelados. Isto quando não se matam entre si. O banditismo campeia entre o povo. O povo é ladrão. O povo é viciado. O povo é doido. O povo é imprevisível. O povo é um perigo.

O povo não tem a mínima cultura. Muitos nem sabem ler ou escrever. O povo não viaja, não se interessa por boa música ou literatura, não vai a museus. O povo não gosta de trabalho criativo, prefere empregos ignóbeis e aviltantes. Isto quando trabalha, pois há os que preferem o ócio contemplativo, embaixo de pontes. Se não fosse o povo nossa economia funcionaria como uma máquina. Todo mundo seria mais feliz sem o povo. O povo é deprimente. O povo deveria ser eliminado.


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16 comentários:

Marcel Luis disse...

muito bom, não poderia concordar mais :P eu faço parte do povo inclusive, comecem por mim ^_^

Marcel Luis disse...

muito bom, não poderia concordar mais :P eu faço parte do povo inclusive, comecem por mim ^_^

Unknown disse...

...de morte por má nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo atropelados. Isto quando não se matam...

tenho um amigo que faz parte do povo mesmo

geaUIOGEOAigehaIOPGEAopighepoaGHEPOAhpoe

Alan Tykhé disse...

"O povo deveria ser eliminado."

O que colocar no lugar do povo?

Que tal super homens?

Leiam "Assim Falou Zaratustra"...

Anônimo disse...

Indiscultivelmente concordo com o autor. O povo é um atraso na vida de quem sonha um progresso, e não só socialmente.Não é nenhuma farsa o que este texto crítico relata, é só nos darmos o luxo de sairmos pelas ruas, e não me refiro a turismo, que observar-nos-emos o quão apedeuta o povo é.E olha que a culpa não é do governo,nem de quem tem do povo uma vista inferior, a culpa é do povo que se tornou admissivel ás críticas, e que, cabívelmente se adaptou a essas e nunca fez nada para tornar se digno.O povo não tem voz,o povo não tem cabeça, o povo aceita tudo,o povo não tem opinião. O povo é o mesmo, e ele não vai mudar!

Unknown disse...

bando de filhos da puta!!!!
hipócritas, não têm o mínimo de senso crítico.
usem suas cabeças pensantes! falam como se estar numa favela, ou em baixo do viaduto fosse culpa dos habitantes desses lugares, é muito confortável mesmo, aplaudir esse idiota veríssimo, sentados em suas poltronas.
observem e vejam a verdade, em suas novelas e jogos de rpg!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

o nome dele deveria ser " Filho da Puta Veríssimo"!
burgueses malditos!
conhecem o mundo pelo que vêem nas telas de seus computadores e Tvs!

Unknown disse...

O autor faz uma crítica extremamente construtiva e humorística. Isso não quer dizer que ele esteja contra o povo. Porém, há leitores que não entendem o que significa ironia, e não sabem interpretar corretamente, os quais ficam contra o autor. Digamos que sejam parte do povo.

Unknown disse...

Ótima crônica.

Professor Alves Andrade disse...

É impossível que os colegas que postaram seus comentários não perceberam a ironia que há nessa belíssima crônica de Luís Fernando Veríssimo. Na verdade o autor nos mostra a idéia que a elite faz do povo, como se o povo tivesse culpa das atrocidades sociais que são perpetradas contra ELE (POVO). Se o povo não tem educação, como pode gostar de boa música, se não teve direito real à Educação, como pode discernir comportamentos adequados (para quem?) de outros inadequados (para quem também?). E assim ele foi criticando, ironizando, na verdade, a elite burra, que não percebeu nas entrelinhas que estava de fato sendo criticada ao invés do povo. Boa noite.

Professora Vanusa disse...

Quando Veríssimo escreveu sobre Lula e o Romanee Conti também não perceberam que estava sendo irônico. Vou ver se meus alunos compreendem isso amanhã (rs).

Emir Starshyne disse...

Eu sei que ressuscitar o cachorro morto náo o fará latir como antes, mas é inevitável.
O texto de Luis Fernando Veríssimo é perfeito. Não é uma declaração de ódio burguês aos menos favorecidos, é uma exposição da situação do povo sob a óptica burguesa que governa o país. O humor ácido deste luminar literário nos convida a refletir sobre como nossos governantes nos enxergam. É isso que ele quis dizer. Quem não entendeu é porque tem cérebro popular - no sentido pejorativo da palavra (como se houvesse outro).
Não acho que o povo deveria ser eliminado, mas varrer da face da Terra todas as pessoas com QI menor que 120 já resolveria todos os problemas do mundo e, de quebra, daria soluções prévias a quaisquer outros que porventura viessem a surgir nas eras vindouras.
O mal do mundo é a ignorância. Gente burra, a meu ver, tem que morrer. Não devemos instruí-los, é uma operação vã. Devemos eliminá-los para o bem dos mentalmente despertos, pois a falta de capacidade mental atrasa a sociedade, entupindo igrejas e shoppings, abarrotando sofás defronte televisores e condenando bibliotecas, museus e universidades ao mofo e às teias de aranhas. Dá-lhe Veríssimo, faz jus ao "veríssimo" de seu nome nos brindando com verdades e mais verdades!

Unknown disse...

Fui procurar no Google por esta crônica maravilhosa e me deparo com estes comentários horrendos. Meu Deus do Céu!!! Será que não dá para perceber que Veríssimo está usando a ironia, para tratar sobre os discursos em relação ao "povo", que estão na mídia, entre os políticos ou mesmo no senso comum? O pior é ver alguém concordando em "eliminar o povo". Ou seja, confirmam o que a crônica diz.

Unknown disse...

O que ele quis dizer com "é uma posição impopular"?

Unknown disse...

Que é uma opinião que certamente desagrada ao povo, mas que ele precisa dizer, embora o povo não fique contente com essa verdade.